24.2.10

a net


"... o interesse da tv pela cultura, é um pouco como o interesse de Michael Jackson pelas crianças. Toda a gente considera isso formidável e ao mesmo tempo há qualquer coisa de vagamente suspeito nisso. A cultura de hoje é exactamente aquela que é representada nos médias, nem mais nem menos, não há nada que fique de fora, pelo menos no plano fenomenológico. Podemos mesmo deferir a cultura como a totalidade do conteúdo dos média, mais os médias eles próprios. O que torna bastante simples ser contra cultura: basta apagar a tv. No entanto, é preciso lembrar, que para ser verdadeiramente contra cultura este gesto só terá validade se for mostrado na tv. Pessolmente deixei de ver tv em 1998, e ela não me faz falta: de facto estava bastante orgulhoso da minha atitude, antes de me aperceber que tinha todos os sintomas de dependencia da internet, algo que não é nada melhor. É um pouco como livrarmo-nos da gonorreia e apanharmos a sifilis, desculpem a metáfora sexual mas os orgão genitais são a minha primeira analogia para com os média. A tv é fálica, ela penetra-nos profundamente com a sua estrutura rígida de programas pré-formatados, impossiveis de modificar. A internet por outro lado é vaginal, passiva, é a nossa procura activa que lhe dá forma, e ao fim de algum tempo começamos a compreender o que ouvimos dizer por " vagina com dentes."
Victor Pelevin, Les Inrockptibles 2005

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